ANTECEDENTES DO HINO NACIONAL

Se a Bandeira Nacional é um símbolo visível, o Hino Nacional constitui
a exteriorização musical que proclama e simboliza a nação.

 Só a partir do século XIX os povos da Europa criaram o uso de cantar os hinos, quando um movimento de opinião levou a que cada estado estabelecesse uma composição, com letra e música que fosse representativa e oficial. Até então os povos e os exércitos conheciam apenas os cantos e os toques guerreiros próprios de cada corpo e as canções relativas aos acontecimentos dignos de memória.

 Durante a monarquia, o ideário da Nação Portuguesa estava consubstanciado no poder do Rei. Não havia a noção de um hino nacional, e por isso as peças musicais com carácter público ou oficial identificavam-se com o monarca reinante.

 Neste contexto, ainda em 1826, em Portugal era considerado como hino oficial
o "Hymno Patriótico", da autoria de Marcos Portugal. Este hino inspirava-se
na parte final da Cantata "La Speranza o sia l`Augurio Felice", composta e oferecida pelo autor ao Príncipe Regente D.João quando este estava retirado com a Corte no Brasil, e que foi representada no Teatro de S. Carlos em Lisboa, a 13 de Maio de 1809 para celebrar o seu aniversário natalício
.

 A poesia do "Hynmno Patriótico" teve diferentes versões face às circunstâncias e aos acontecimentos da época, tornando-se naturalmente generalizada e nacional pelo agrado da sua expressão marcial, que estimulava os ânimos aos portugueses, convidando-os
à continuação de acções heróicas.

Com o regresso do Rei ao País, em 1821, o mesmo autor dedicou-lhe um poema que, sendo cantado com a musica do hino, rapidamente se divulgou e passou a ser entoado solenemente.

Entretanto, na sequência da revolução de 1820, foi aprovada em 22 de Setembro de 1822 a primeira Constituição Liberal Portuguesa, que foi jurada por D. João VI, D. Pedro, então Príncipe Regente no Brasil, compôs o "Hymno Imperial e Constitucional", dedicado à Constituição.

Após a morte do Rei, e com a subida de D. Pedro IV ao trono, este outorgou aos portugueses uma carta Constitucional. O hino de sua autoria generalizou-se com a denominação oficial como "Hymno nacional", e por isso obrigatório em todas as solenidades públicas, a partir de Maio de 1834.
Com a música do "Hymno da Carta" compuseram-se variadas obras de natureza popular (modas) ou dedicadas a acontecimentos e personalidades de relevo, identificando-se em pleno com a vida política e social dos últimos setenta anos da monarquia em Portugal.

Nos finais do século XIX, "A Portuguesa", marcha vibrante e arrebatadora, de forte expressão patriótica, pela afirmação de independência que representa e pelo entusiasmo que desperta, torna-se, naturalmente e por mérito próprio, um consagrado símbolo nacional, na sua versão completa:

                         I

Heróis do mar, nobre povo,

Nação valente, imortal

Levantai hoje de novo

O esplendor de Portugal

Entre as brumas da memória,

Ó Pátria, sente-se a voz

Dos teus egrégios avós

Que há-de guiar-te à vitória!

Às armas, às armas!

 Sobre a terra sobre o mar,

 Às armas, às armas!

 Pela Pátria lutar

Contra os canhões marchar, marchar!

 

 

                   II

Desfralda a invicta Bandeira,

À luz viva do teu céu!

 Brade a Europa à terra inteira:

 Portugal não pereceu

Beija o solo teu jucundo

O oceano, a rugir d`amor,

E o teu Braço vencedor

Deu mundos novos ao mundo!

Às armas, às armas!

 Sobre a terra sobre o mar,

 Às armas, às armas!

 Pela Pátria lutar

Contra os canhões marchar, marchar

 

 

               

                  III
Saudai o Sol que desponta

 Sobre um ridente porvir;

 Seja o eco de uma afronta

 O sinal de ressurgir.

 Raios dessa aurora forte

 São como beijos de mãe,

 Que nos guardam, nos sustêm,

 Contra as injúrias da sorte.

Às armas, às armas!

 Sobre aterra, sobre o mar,

Às armas, às armas!

Pela Pátria lutar

Contra os canhões marchar, marchar


 

 

Porém, o Hino, que fora, concebido para unir os portugueses em redor de um sentimento comum, pelo facto de ter sido cantado pelos revolucionários de 31 de Janeiro de 1891, foi desconsiderado pelos monárquicos e proibida a sua execução em actos oficiais e solenes. Quando da implantação da República em 1910 "A Portuguesa" aflora espontaneamente de novo à voz popular, tendo sido tocada e cantada nas ruas de Lisboa.

A mesma Assembleia Constituinte de 19 de Junho de 1911, que aprovou a Bandeira Nacional, proclamou "A Portuguesa" como Hino Nacional.

 
Era assim oficializada a composição de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça que, numa feliz e extraordinária aliança de música e poesia, respectivamente, conseguira interpretar em 1890, com elevado sucesso, o sentimento patriótico de revolta contra o ultimato que a Inglaterra, em termos arrogantes e humilhantes, impusera a Portugal. Em 1956, constatando-se a existência de algumas variantes do Hino, não só na linha melódica, como até nas instrumentações, especialmente para banda, o Governo nomeou uma comissão encarregada de estudar a versão oficial de "A Portuguesa", a qual elaborou. uma proposta que, aprovada em Conselho de Ministros em 16 de Julho de 1957, é a que actualmente está em vigor
.

 

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