O avanço tecnológico e os instrumentos acústicos

 

Quando falamos de avanço tecnológico, a nossa imagem vai para um telemóvel de última geração, um computador, uma casa equipada com um sistema eletrónico, mas nunca pensamos numa simples torneira. O avanço tecnológico tem muitos anos mas a torneira mudou a nossa vida. O privilégio de ter água em casa (quente ou fria) sem ter de ir a um poço ou esperar pelo refrão "Auga da Bica", que vinha de Caneças.

Como não sou sénior, mas simplesmente velho, (em Outubro tenho 70 anos) lembro-me perfeitamente do senhor que transportava bilhas de barro com água, (com selo de garantia) para a Rua Heróis de Quionga (Alto de São João - Lisboa). Dizem que velhos são os trapos, mas a palavra “velho” não me ofende, porque acredito que os velhos ainda têm muita coisa para ensinar aos novos e ao avanço tecnológico. Tiraram o curso de Doutores na Universidade da Vida.

Nunca pretendi ter razão, mas sim partilhar dúvidas e conhecimentos. Todos é que sabemos tudo. Perguntar não ofende! Será que o avanço tecnológico anda a vigarizar a nossa vida? Não será que o ser humano se anda a tornar mais preguiçoso? 

Nas antigas televisões tínhamos de levantar o “rabiosque” da cadeira para baixar ou aumentar o som e mudar de canal. Será que não andamos a ficar demasiado dependentes do avanço tecnológico?

Ainda sabe escrever uma carta em bom (ou mau) português, ou só trabalha com SMS onde o K=que? Um postal de Boas Festas, ainda escreve? Ainda sabe o valor do selo que se coloca numa carta? Será que esta rapaziada que passa longas horas a olhar para o écran dum telemóvel vai ter problemas de olhos? E as discotecas, onde a música é tão alta que ninguém consegue falar? Quando forem “séniores”, vão ter problemas de ouvidos?

O avanço tecnológico retirou à música o seu sentimento afetivo. A música está a ficar uma mercadoria musical. O que é importante é o negócio. Como é lógico dá dinheiro a muita gente, mas o músico também estará incluído? E quando estiver doente, terá proteção para as suas “maleitas”? Fazem-se seguros para os instrumentos musicais (a ferramenta de um músico, que já foi comprada como objeto de luxo) ou os seguros são tão caros que o músico não ganha dinheiro para os pagar? Quando um músico entala um dedo e não consegue tocar, ganha ou perde? Tem Caixa ou só Estojo para guardar a Guitarra?

O que são concertos acústicos? Instrumentos acústicos com um microfone à frente para ampliar o som e um cheirinho de reverberação para tornar a sonoridade mais “catita” e disfarçar o pisar de cordas. Mas o que ouve no concerto é o som que sai pelas colunas de som!

E porque será que em muitos programas de televisão os músicos fingem que estão a tocar… o famoso “playback”?

Já imaginou o velho cavador, com as mãos calejada da enxada a tocar Cavaquinho? Nas suas horas de laser tem a companhia dos amigos para saborear a alegria da música das suas modinhas.

Se um dia puder veja e oiça a nossa música tocada por quem trabalha na dureza do campo. Mas será que sabe apreciar a beleza do estar na companhia dum simples Cavaquinho? Como é lógico é necessário saber entender a simplicidade do seu tocador. Aqui é que está a grande beleza da música. Saber entender um Cavaquinho que tem cordas velhas, não está rigorosamente afinado e os calos das mãos não permitem acordes complicados, não é para eruditos mas para pessoas simples que os mestres teimam em chamar “povo”.

Mas será que todas as pessoas que cozinham em casa têm “Estrelas Mabor”?  E os automobilistas de domingo, será que passavam no exame de código?

Já viu alguém estar num restaurante a ver comer?

Então se gosta de música aprenda a tocar um instrumento musical. Não sabe se tem jeito? Será que todos os condutores que circulam mas nossas estradas têm jeito para conduzir? Ainda se lembra de quando conduziu um carro pela primeira vez? Puxe os cordões à bolsa, compre um instrumento musical da sua preferência e, sem pressa, vá aprendendo as suas modinhas. De vez em quando as notas saem ao lado… haja saúde e dinheiro para gastos.

Se o avanço tecnológico deu ao músico muitas ferramentas de trabalho também lhe tirou muita coisa. Se não há trabalho para o músico é difícil comprar um novo instrumento ou mesmo fazer a manutenção dos instrumentos que utiliza no seu dia-a-dia. Os espetáculos têm épocas próprias e a boca e a renda de casa não. As discotecas tinham o seu “conjunto musical” que abrilhantava a noite, agora alguém que faz rodar CD’s (que também tem a sua arte) mas não é música. Salas onde se possa ouvir música todos os dias o mas natural era “estarem às moscas”. Porquê? Não temos o hábito de ouvir música. Hoje em dia, para muitos, música é sinónimo de rádio, telefone, televisão, etc.  

Quando um dia compreender que ouvir música é ver e ouvir ao vivo, um ou vários músicos a tocar, sem truques do avanço tecnológico, então vai sentir a diferença das palavras música e mercadoria musical.

Mas ver e ouvir música não tem nada a ver com telediscos e concertos rock, com muitos watts de som e efeitos de fumos e luzes de pisca-pisca. Este tipo de espetáculos (que são “giros” para a rapaziada e não só) são baseados no grande avanço tecnológicos. São negócios musicais. Têm a sua importância mas não são música. A importância da internet faz com que os grupos de música estrangeira tenham muitos adeptos em Portugal e não só. A música cantada em inglês (ou americano) cilindrou todas as outras línguas. Mas que ninguém leve a mal que eu “puxe a brasa” aos músicos portugueses e à nossa língua.

Se um dia quiser sentir a diferença entre o verdadeiro som acústico e o som amplificado, vá a um clube onde o som sai de cada instrumento e o músico transporta para o mesmo a sua maneira de estar e de sentir a música, no dia em que está a atuar. Avanço tecnológico sim… mas como o sal na comida: nem de mais nem de menos (como é lógico o médico é que tem a última palavra a dizer sobre o sal).

Mas honra lhe seja feita, o avanço tecnológico tem um papel importante na aprendizagem de como tocar um instrumento musical, seja ele acústico ou eletrónico. Nem sempre é fácil ter um professor de música ou frequentar um conservatório. Muitas são as pessoas que querem tocar um instrumento musical mas não querem fazer vida profissional e não têm um professor ou alguém que lhes transmita os primeiros passos da aprendizagem. Depois as dúvidas na compra do instrumento que pretendem aprender. De tantas burrices que fiz, uma coisa vos posso garantir: não comprem um instrumento por fotografia excepto se não tiverem outra oportunidade. Na fotografia parece muito bonito depois na realidade tem mau som, uma escala empenada, carrilhões que não afinam, resumindo... só desgraças!

Comprar um bom instrumento musical é muito importante para quer começar a sua aprendizagem. Como exemplo, uma Guitarra Portuguesa com a escala empenada ou com as cordas altas em realação à escala, muitas vezes é o motivo principal do aluno desistir da sua aprendizagem.

No que o poder ajudar disponha sempre. A intenção desta página é partilhar o que aprendi com muitos mestres.