A Construção duma Guitarra Portuguesa

 

Com o aparecimento do Acordeão as Violas de Arame perderam adeptos e foram muitos, os Violeiros que as deixaram de fabricar. Dentro dos cordofones a Guitarra Portuguesa ganhava adeptos e os construtores procuravam uma sonoridade especial para este instrumento. Cada construtor começa por criar os seus segredos de construção, que passam pela qualidade de madeira, colocação de travessas, espessura da madeira, etc. Para quem não está por dentro destes assuntos aqui fica uma fotografia bem esclarecedora de uma guitarra vista por dentro.

 

1-    As costas, feitas duas peças de madeira, como o Acer, Pau-Santo. Jacarandá,etc.

2-    A escala e as respectivas divisões feitas por barrinhas de metal conhecidas por trastes.

3-    As ilhargas, feitas da mesma qualidade de madeira do que as costas.

4-    O Tampo, feito de madeira branda como a Casquinha, Spuce ou Orongue.

5-    O braço, terminando em voluta musical onde se coloca o Leque, que nas boas guitarra é feito de peça única em nogueira.

6-    O Leque, dispositivo mecânico destinado a afinar as cordas, que foi inventado por um senhor inglês chamado Simpson.

7-    As Travessa, em madeira branca, destinadas a dar estrutura à caixa acústica da Guitarra e resistência às costas e ao tampo.

Mas os grandes segredos da construção da Guitarra Portuguesa estão nas medidas correctas de colação de travessa e da boca ou abertura musical. Aqui fica um exemplo das medidas utilizadas por Álvaro Merciano da Silveita.

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Duma maneira muito resumida construir uma Guitarra Portuguesa tem várias fases de construção, que dependem do Guitarreiro, isto é, nem todos os Guitarreiros utilizam a mesma técnica. Mas dum modo geral à que ter em conta a construção do Braço e da caixa acústica. O braço, normalmente de nogueira, que pode ser de peça única ou com a parte da Voluta emendada para poupar madeira. Nem sempre o Guitarreiro faz a Voluta, muitas vezes prepara o braço em bruto e entrega-o a um entalhador par nele esculpir uma Voluta em caracol com ramagens ou nas Guitarras de Luxo muitas vezes figuras humanas ou de Animais. De salientar dois grandes entalhadores de Volutas que foram o Mestre Cid e o Mestre Lisboa. Outra peça que o Guitarreiro compra são as partes de metal utilizadas na Guitarra ou seja o Leque, o Atadilho e os Pontos ou Trastes. B escala que assenta no braço depois de ele estar colado à caixa acústica, deve ser de uma madeira dura para não empenar como por exemplo a madeira de Ébano. As madeiras escolhidas para o fundo e ilhargas dependem da sonoridade que se pretende do instrumento. Mas de um modo geral o Pau-Santo é a madeira escolhida o que não quer dizer que uma Guitarra em Acér tenha pior som. Todos os Guitarreiros sabem qu a sonoridade da Guitarra Portuguesas só no final e depois de muitas horas de ser tocada é que se sabe a sua verdade. Nenhum Guitarreiro pode afirmar: eu vou fazer uma grande Guitarra, porque essa sabedoria nunca ninguém a descobrir, seja lá qualquer que seja o instrumento musical. Se modernamente, já é possível comprar madeiras quase prontas para se construir a caixa acústica, antigamente não era assim. Era precisa preparar as duas tábuas de veio simétrico para as costas e duas para o tampo, com a arte de saber serrar e aplainar de tal modo que as peças ficassem com uma espessura de cerca de 3 milímetros. As Ilhargas, as partes laterais do instrumento eram dobradas a quente, depois de serem previamente humedecidas. Depois a arte de as dobrar. Muita força era sinónimo de as ilhargas iam partir, mas pouca força queimava as madeiras. Todas estas peças eram coladas e apertadas a um molda que lhe dava a forma final.

 

 

Quando as Ilhargas são presas à forma por grampos, são reforçadas pelas cintas, travessa e os dois tacos que unem as respectivas extremidades.

 

 

 

Depois são colocadas as Costas e a Caixa Acústica é desenformada para se colar o Tampo. No Tampo, onde previamente se abriu um buraco, conhecido por Boca ou Abertura Musical, por donde sai a maior parte do som da guitarra, são feitos vários reforços de madeira branda, para que possam ser colocados os embutidos na boca e na periferia do tampo, que têm por função embelezar o instrumento.

 

        

Quando a Caixa Acústica está pronta, coloca-se o braço, que pode ser colado por um encaixe de malhete ou o braço já tem colado um Taco onde as ilhargas vão colar.

 

     

 

Depois da Guitarra estar devidamente colada, antigamente com Grude e hoje em dia com cola branca, tem de ser bem lixada para poder ser envernizada. Aqui começam outros segredos, onde cada Guitarreiro tem os seus. Envernizar à “Boneca”, a pincel, com goma Laca, eu sei lá era preciso um grande tratado só para falar deste assunto. No entanto 3 peças importantes que se não estiverem bem feitas a Guitarra pode não ter o som desejado. Refiro-me à pestana, onde se apoiam as cordas junto à Voluta, o Cavalete e a Pataleta, que serve de apoio ao cavalete. B posição do Cavalete Também é rigorosa, pois dessa posição depende uma boa afinação do instrumento. No entanto a construção da Guitarra de Lisboa é bem diferente da Guitarra de Coimbra. Foi da troca de informações e duma procura de uma nova sonoridade que trabalharam Artur Paredes e João Pedro Grácio, procurando um timbre mais toeiro (mais grave) para a Guitarra Coimbrã. Muitas foram as alterações feitas na Guitarra de Lisboa. Carlos Paredes também procurou, com o Mestre Gilberto Grácio uma sonoridade diferente para um instrumento ao qual Carlos Paredes chamou de Guitarra Barítono, por ter um escala e corpo maior que a de Coimbra. Na altura Paredes não gostou do timbre, mas após a sua morte, Gilberto Grácio deu continuidade ao projecto inventando um instrumento novo, ao qual lhe deu o nome de Guitolão. Só o tempo o dirá se este novo instrumento consegue ter tantos adeptos como os que tem a Guitarra Portuguesa, onde até no Japão existem escolas para a aprenderem a tocar.