Aprender a polir a moda antiga - O trabalho manual tem um sentimento próprio

POLIDOR

         Os trabalhos de marcenaria podem ser encerados ou polidos. Estas operações são executadas pelo polidor.

Para encerar a madeira e dar-lhe um bom brilho emprega-se uma dissolução de cera virgem, ou amarela, em essência de terebintina ou aguarrás, na proporção de 125 gramas de cera para um litro de essência.

Pica-se a cera, em pequenas aparas, com um formão e derrete-se em banho-maria até que se dissolva por completo. Deixa-se esfriar e se então se vir que está muito espessa deita-se-lhe mais aguarrás.

Para encerar ornatos ou esculturas deve-se impregnar uma solução menos forte, que se aplica a pincel, ao passo que nos outros casos se faz uso de um trapo qualquer para estender a cera por igual pelo móvel.

Quatro a cinco horas após a aplicação da cera, pode-se lustrar ou puxar o lustro às superfícies enceradas empregando um pano de lã, flanela, etc., de por branca, de preferência. O brilho nos ornatos é dado e puxado por meio de uma escova macia, não demasiadamente, mas um pouco tesa.

Considera-se uma obra bem encerada quando adquire belo brilho e não mostra a cera empastada ou acumulada num ou noutro ponto. A cera deve desaparecer por completo com a fricção do pano ou da escova.

Há quem adicione tinta à cera, o que não é recomendável, visto que qualquer cor ou pó que se lhe junte corta ou prejudica um pouco a beleza do lustro especial da cera impregnada na madeira, não lhe conservando a beleza da sua cor e dos seus veios.

Tratando-se, porém, do pau-santo, que se queira tornar mais escuro, sem lhe alterar o veio, aplica-se-lhe uma infusão apropriada como seja o fungão diluído, adicionado de umas gotas de soda cáustica.

Aplica-se a infusão com um pincel, esbatendo-a muito bem com uma trincha e depois de seca esfrega-se com um pano bastante áspero. Seguidamente aplica-se a cera e a aguarrás tratando-se de superfícies lisas. No caso de ornatos puxa-se o lustro à cera com uma escova seca, áspera.

Vamos indicar agora a maneira de aplicar o polimento às diversas qualidades de madeira empregadas em marcenaria, pelo que exporemos as diversas fases das operações executadas pelo polidor, dum modo muito sumário. Pois nesta arte a prática desempenha papel primacial.

Começa o polidor por preparar o polimento, para o que utiliza um recipiente em folha-de-flandres, a que se dá o nome de cataplónia, fechado com uma tampa de madeira.

Prepara-se uma dissolução, de preferência em banho-maria, que dá produtos mais fluidos, de 200 a 250 gramas de goma laca em um litro de álcool puro a 40 graus. Como o álcool tem atualmente preço muito elevado pode empregar-se álcool desnaturado. A goma laca a misturar com o álcool deve ser muito esmigalhada, para o que se mete num pano, apertado em forma de boneca, e se bate com um pequeno maço, e quando estiver desfeita em partículas minúsculas deita-se juntamente com o álcool na cataplónia, que se coloca sobre o lume. Enquanto o polimento não estiver concluído, o polidor deve estar sempre a manobrar o polimento, o qual, depois de concluído, se passa para garrafas rolhadas.

A goma laca é uma resina extraída e diversas árvores da Índia e encontra-se no comércio são a forma de delgadíssimas películas cristalizadas.

O polidor tem a sua mesa de trabalho, de cerca de 1,50 metros de comprimento e 0,80 de largo e por 0.90 de altura, sobre a qual tem sempre um pano estendido cobrindo o tampo, pano este que deve ser macio.

O polidor deve ter sempre à mão os seguintes ingredientes:

1 - Pedra-pomes em pó, artigo do comércio, destinada a maciar e tapar o poro da madeira. Para esse efeito o polidor usa a boneca de pedra-pomes, que é um bocado de pano branco, de tecido não muito fechado, onde deita uma porção de pedra-pomes em pó, unindo depois as pontas, apertando-o e atando-o com um bocado de cordel.

Quando se bate coma boneca fica a superfície da madeira polvilhada com o pó impalpável da pedra-pomes.

2 – Óleo de linhaça que se emprega para facilitar o correr da boneca de polimento.

A boneca de polimento é feita com um bocado de pano macio e forte, de preferência linho branco, e o enchimento é de flanela branca ou filele.

3 – Álcool de 40º, que se utiliza para dar acabamento à obra que já tem primeira e segunda demão.

A madeira toma tanto melhor o polimento quanto mais fechados tiver os seus poros. As madeiras muito porosas, como por exemplo o carvalho, levam muito mais tempo ma polir do que as não porosas e por conseguinte chupam muito polimento.

Para polir qualquer superfície plana ou curva, enseba-se, a parte que se vai polir, com sebo refinado para tapar os poros e amaciar a madeira. Depois de a madeira estar muito bem ensebada, limpa-se o sebo com uns trapos e, coma boneca de pedra-pomes em pó polvilha-se toda a superfície da peça a polir.

Seguidamente toma-se a boneca e despeja-se mo seu interior uma porção de polimento, aplicando a boneca à madeira a polir; com a mão direita segura-se a boneca, a que se dá constante movimento de rotação, esfregando e percorrendo toda a superfície. De vez em quando molham-se as pontas dos dedos com óleo de linhaça, que se estende na parte que se está polindo. Esta operação é para amaciar e facilitar o movimento da boneca.

Quando o poro está tapado, para-se a operação durante vinte e quatro horas ou mais, ficando o trabalho com a primeira demão.

No dia seguinte recomeça-se o trabalho, aplicando a segunda demão, dando menos polimento na boneca e não empregando mais óleo de linhaça.

O polidor serve-se de outra boneca, menor e bem apertada na mão, torcendo-a nas pontas do pano que lhe serve de invólucro.

Quando a segunda demão está concluída, que é quando o poro está completamente tapado, toma-se um pano branco muito fino e limpo, que se dobra em diversas partes, com que se faz uma boneca simples, a que se chama boneca do álcool ou do lustro.

Molha-se esta boneca em álcool, sem que fique a escorrer quando se bate com a face da boneca nas costas da mão. Em seguida passa-se com ela por cima da parte que já está polida, a direito, ligeiramente, a fim de tirar os laivos deixados pela boneca de polimento e dar à madeira um magnífico brilho.

Estando seca a boneca do lustro, está a peça polida, que se não deve entregar ao marceneiro senão vinte e quatro horas depois que é quando o polimento está seco por completo.

Para dar brilho a madeira esculpida ou entalhada usa-se verniz de álcool dado com um pincel de petit-gris ou de pena. O verniz deve ser muito bem esbatido e não se deve passar duas vezes com o pincel pelo mesmo sítio; sendo necessário aplica-se a segunda demão de verniz, após terem de corrido vinte e quatro horas depois da primeira.

A fórmula do verniz de álcool é quase a mesmo do polimento: é formado por álcool, goma-laca e pez-louro, indo depois ao lume para ficar bem dissolvida a mistura. Deve o polidor ter duas cataplónia, uma para o polimento e outra para o verniz.

O polimento branco, quer dizer, o polimento para madeiras brancas, como o freixo, o érable branco, etc., prepara-se a frio misturando álcool e goma branca refinada. A goma pisa-se num almofariz e depois mistura-se com álcool numa garrafa branca, agitando-se de vez em quando até que esteja bem dissolvida a goma. Com este polimento não se emprega óleo de linhaça. Quando o operário trabalha com este polimento deve trazer as mãos muito limpas, sempre.

A ornamentação de uma obra branca não deve ser envernizada mas sim encerada.

Obrigado ao amigo Albano Pinto, que teve a amabilidade de partilhar comigo esta "sabedoria".

Agora é de todos porque ... "Todos é que sabemos tudo!"