Quem é que nasceu primeiro:

Foi o “Fado” ou o “ovo”?

 

1º Capítulo

 

Dizia o meu Avô das Barbas, (avô da Minha mãe) que só havia uma coisa que me fazia mal; eu me chatear. Encontrei um bom motivo para contrariar a teoria do “Avô das Barbas”. Falar de Fado. Se é entendido no assunto (em Portugal existem mais de 10 milhões de letrados) acabe a sua leitura pelo simples facto de não ir aprender nada e perder o seu tempo.

Se pensa que vai encontrar a “papa já feita” engane-se porque o mais provável e ter de ir comer fora. Só vou fazer perguntas para meditar sobre o assunto. Depois, mãos à obra. Comece por ler os livros já escritos sobre o assunto. Existem na Biblioteca Nacional de Lisboa e para lhe facilitar a sua vidinha aqui está o caminho.

http://www.jose-lucio.com/Fado/Livros.htm

É só imprimir, tomar nota ou guardar no seu computador. É grátis e não tem publicidade nem vírus. Como vê já tem trabalho de casa para os próximos 10 anos, isto de tiver hábitos de leitura diária de 10 horas.

 

Depois de ter saboreado esta mão cheia de livros, que qualquer letrado sobre o assunto já leu, deve prestar uma atenção especial (reler) a determinados livros:

 

O Fado - Origens Líricas e Motivações Poéticas, de Mascarenhas BARRETO, (Lisboa) publicações Aster (1980). Pode ler em português ou inglês.

Mascarenhas Barreto, homem culto e sabedor, com quem muito aprendi em conversas de largas horas (tenho este livro com uma dedicatória do autor de 1992) vislumbra a origem do Fado com o início da nacionalidade. Cavaleiro e Trovadores formam a Escola de Poesia Provençal. Canções como a ”Chansó”, o “Sirvente”, ao “Contenses” e o “Plang” foram a pedra de toque do Fado. Leia com atenção que o assunto é interessante. Mas é a opinião do autor. Todos é que sabemos tudo. Forme também a sua opinião. Gostar de Fado é dar qualquer coisa ao Fado. No entanto muitos são aqueles que só vivem à custa do Fado.

Já reparou quantos Fadistas ou Cantadeiras ao cantarem um Fado não prestam homenagem ao poeta que escreveu a letra, ao compositor da música e muitas vezes nem apresentam os músicos que os acompanham.

Quem não conhece a nossa grande Dona Amália Rodrigues? E os músicos que ao longo de dezenas de anos a acompanharam? Sabe o nome de 4 ou 5?

 

História do Fado, Lisboa, de José Pinto Ribeiro de Carvalho (TINOP) das Publicações D. Quixote, 1984. Prepare um bom dicionário par entender bem o assunto. Prepare-se para mastigar bem o assunto… sem “ovos” não se fazem “Fados”.

José Pinto Ribeiro de Carvalho (nasceu em Lisboa em 1858 e faleceu na mesma cidade em 1930) e publicou este Trabalho em 1903.

 

Se abrir o livro na página 42 pode ter uma noção do que TINOP pensava do “Fado”.

 

- Para nós, o fado tem uma origem marítima, origem que se vislumbra no seu ritmo onduloso como os movimentos cadenciados da vaga, balanceante como o jogar de bombordo a estibordo nos navios sobre a toalha líquida florida de fosforocência fugitivas ou como o vaivém das ondas batendo no costado, ofegante como o arfar do Grande Azul desfazendo a sua túnica franjada de rendas esponosas, triste coc as lamentações fluctívugas do Atlântico que se convulsa glauco como babas de prata, saudoso como a indefinível nostalgia da pátria ausente.

 

Como vê, se for convidado para uma entrevista (jornal, rádio ou televisão) decorre esta frase, que vai fazer um brilharete quando o seu interlocutor lhe perguntar o que é o Fado.

 

Como lhe prometi que iria fazer perguntas de meditação sobre o assunto aqui está a primeira.

 

1ª Pergunta

 

Se o Fado tem origem marítima, porque é que não existem registo na Escola de Sagres (Infante D. Henrique que nasceu no  Porto em 1394! e morreu em Sagres a 13 de Novembro de 1460) sobre o Fado?

Se tem origem marítima devia ter sido baptizado de “MAR” o e seu cantor ou tocador de “Marinheiro”. Em todos os portos portugueses devia haver Fado. Mas o Fado é uma canção urbana de Lisboa. Não me diga que também é daqueles que dizem “Fado de Coimbra”?

Em Coimbra não há Fado mas sim “Canção ou Balada de Coimbra”. Claro que se o vinho… tanto faz que seja Branco ou Tinto, o que é importante é que seja cheia… então tudo bem. Já não está cá quem escreveu.

A talho de foice, não sei se por acaso já leu “Os Lusíadas” de Luís Vaz de Camões (1524! – 1580). A palavra "fado" aparece escrita 17 vezes. Se quer um exemplo basta ler o canto I, estrofe 28 (Prometido lhe está do fado eterno…)

Será que Luís de Camões já era Fadista?

 

Bem vamos continuar com a nossa leitura.

Agora o meu livro favorito sobre este assunto.

 

"A Triste Canção do Sul "de Alberto Pimentel, Lisboa, Publicações D. Quixote, 1989.

Alberto Augusto de Almeida Pimentel (1849 -1925) publicou este livro em 1904.

 

Quando ler este livre é bom ter à “mão de semear” a 4ª edição do Dicionário de Lacerda (1874) para comprovar que é verdade a afirmação do autor da Triste Canção do Sul de que é neste dicionário que pela primeira vez aparece a palavra "fado" com “expressão musical”.

 

Então em que é que ficamos? Tem origem marítima ou não?

Eu ainda não descobri nenhum dicionário anterior a este, mas quem sou para falar do assunto. Só ando nestas andanças há 40 anos e dizem os mestres que o que custa mais são os primeiros 50 anos.

Como deve saber, uma coisa é a palavra “fado” outra “Fado” com expressão musical.

 

     Se não quer ser letrado no assunto então deve ler o livro de Eduardo Sucena.

 

Lisboa o Fado e os Fadistas, de Eduardo Sucena, Lisboa, 1992.

Outro amigo e mestre com quem muito aprendi.

É sem dúvida o resumo da matéria dada. Um estudioso do assunto que colocou o dedo na ferida de muitos letrados.

Vai entender muito bem que não vale a pena andarmos há procura das origens do Fado sem primeiro saber quando e onde nasceu o seu cantor e tocador: "o Fadista".

 

Se tiver paciência não deixe de consultar na Biblioteca Nacional de Lisboa os três grandes jornais sobre o Fado.

 

Canção do Sul, 1922 quinzenário com vários directores (António Cardo, Cândido Torrezão…).

 

O Fado, 1º exemplar publicado em 16 de Abril de 1910, semanário, proprietário e director Carlos Harrington.

 

Guitarra de Portugal, que nasceu a 15 de Julho de 1922.

Tri-Mensário de Literatura e Poesia, porta-voz do Fado que tinha com director o grande João Linhares Barbosa.

 

Estes jornais têm muito assuntos importantes sobre Fado que se lêem bem em 10 anos. Gostar de Fado é aprender a conhecê-lo. E conhecer dá trabalho. 

Mais uma vez sublinho de que não vai encontrar aqui, nada de novo. Mas para os não letrados é bom que nunca esqueçam que a palavra “fado” pode querer dizer destino ou ser "FADO" uma expressão musical (música). Não são a mesma coisa.

 

Outro assunto polémico o Fado é a existência ou não da cantadeira Severa.

Mais uma leitura para um fim-de-semana.

 

Severa de Júlio de Sousa e Costa, Lisboa, 1.ª Edição, Bertrand, 1936.

 

A SEVERA e o 13º CONDE DO VIMIOSO

 

 Apesar de Júlio Dantes, no seu romance "A SEVERA", ter trocado o nome do seu grande amor (o seu da Severa), por pressão do Presidente do Concelho Hintze Ribeiro e da família do Conde de Vimioso, o mesmo romancista escreveu uma peça para teatro, representada pela primeira vez no actual S. Luís (na época Teatro D. Amélia).

 

A troca escolhida pelo romancista, onde o grande amor de Maria Severa Honofriana o 13º Conde de Vimioso, D. Francisco de Paula Portugal e Castro (1817-1865 ), foi substituído pelo Conde de Marialva era bastaste ridícula. O último Conde de Marialva, D. Pedro José Vito de Menezes Coutinho, tinha "em bom calão, “batido a bota", em Paris no ano de 1823, tinha a Severa 3 anos de idade.

No entanto, não consegui documentar-me, da existência de "pedófilos" na época.

 

Diz a Certidão de casamento dos pais de Maria Severa Honofriana (Onofriana)

 

 

Aos vinte e sete dias do Mes de Abril de mil e oitto centos e quinze annos, nesta Parochial Igreja de Santa Cruz da Prideira desta villa de Santarém, corridos os Banhos em cumprimento alguns e observando em tudo o que determina o Sagrado Concílio, Terendentino, e Constituissonis deste Patriarchado, de na minha prezença e das Testemunhas abaixo declaradas e asignadas, receberão por Marido, Mulher Severo  Manoel e Anna Gertrudes, elle filho de pais incognitos, Baptizado na Freguezia de S. Nicolao desta villa, e morador na Freguezia de Nossa Senhora de Marvilla desta villa o que tudo mostrou pella ceridão do Banho da sua naturalidade e certidão dos dezoutrigos; ella filha Legitima de Alberto Joze Lobo, e de Quitéria Maria natural da Freguezia de S. Francisco da Ponte de Soure Bispado de Porto Alegre o que tudo justificou no Juizo Eclesiastico dests mesma Villa sendo Viugário Geral o Reverendo Domindos Ferreira do Salvador, o qual mandado me foi apresentado por Ordem do ditto para que eu recebesse por Marido, e Molher os Contraentes asima dittos, a Contrahante se tem dezcrerignado as Quaresmas do Estilo nesta Freguezia de Santa Cruz aonde he morador; foro Testemuinhas prezenteque Comigo  asignarão João Godinho, Manoel Martins o qual asignou com o sinal da Cruz e que confirma para constar faz este termo assente era ut supra.

 

                                                      João Godinho

                                                     Manoel Martins

                                       Cuadjutor Francisco Boiz Affonso

 

E com é que sabemos que esta certidão é verdadeira?

Consta no Livro de Assentos da Freguesia de Santa Cruz (Santarém), Livro 2-C na página 15 (versos).

 

Se o pai casou pela Igreja, então não era de etnia cigana.

Mas como é que sabemos se estes senhores eram os pais de Severa?

Pela certidão de Baptismo de Severa.

 

CERTIDÃO DE BAPTISMO

De MARIA SEVERA HONOFRIANA (Onofriana)

Nasceu - 26 de Julho de 1920

Morreu - 30 de Novembro 1946

 

Em doze de Setembro de mil oitocentos e vinte, nesta paróquia dos Anjos, sub-conditione baptizei Maria, filha de Severo Manoel, baptizado na Freguesia de São Nicolau, da Vila de Santarém deste Patriarcado; e de Ana Gertrudes baptizada na de Santa Maria de Ponte de Sôr, Bispado de Portalegre, recebidos na de Santa Cruz da dita Vila de Santarém, e moradores nesta dos Anjos, nas Barracas do Monte. Nasceu em vinte e seis de Julho passado. Padrinho José Maria, casado, morador no Largo do Conde de Pombeiro. Madrinha sua sogra Justina Maria. E para constar fiz este termo que assinei.

O prior licenciado José Ferrão de Mendonça e Sousa.

 

E como é que sabemos que a Severa morreu no dia 30 de Novembro 1946?

Pela certidão de óbito de Severa.

 

CERTIDÃO DE ÓBITO

De MARIA SEVERA HONOFRIANA (Onofriana)

 

No dia trinta do mês de Novembro, na Rua do Cape­lão nº 35-A, faleceu apopléctica sem sacramentos Maria Severa Honofriana, natural de Lisboa, idade de vinte e seis anos, solteira, filha de Severo Manuel de Sousa e de Ana Gertrudes Severa. Foi a sepultar no Cemitério do Alto de São João, de que fiz este assento.

O Prior Felix do Coração de Jesus.

 

E como é que sabemos que esta certidão é verdadeira?

Consta no livro de registo do Cemitério do Alto de São João, Livro nº3, na folha 117.

 

Nesta certidão Honofriana é escrita com “H”. No entanto muitas vezes aparece escrita “Onofriana”. Aqui está um belo problema para ser resolvido.

Pode ir lá confirmar, Cemitério do Alto de São João!

 

Para finalizar este primeiro capítulo dedicado à leitura, a importância tímbrica do Fado dado pela Guitarra Portuguesa. Já agora, como diz o povo, não troque o nome aos bois. Não chama à nossa Viola, Guitarra. A nossa Viola de Fado é um instrumento com uma sonoridade especial.

A Guitarra, bosquejo histórico escrito por Armando Simões (1974), composto e impresso na Tipografia Eborauto, Lda. em Évora.

Enquanto se entretêm a ler este artigo, vá tomando notas das asneiras escritas e diga da sua justiça por correio electrónico jose-lucio@netcabo.pt

 Nunca se sabe, se todos conseguimos fazer alguma coisa de jeito em prol do Fado.

 

Entretanto eu vou rabiscando o Capítulo Nº2.

Não se esqueça! Se encontrar asneiras diga da sua justiça.