Vamos pensar no Fado
Na tentativa de tornar o Fado mais transparente e verdadeiro, um outro pequeno artigo de reflexão sobre o mesmo. Quando queremos procurar a origem do Fado, vamos ler a opinião de alguém que escreveu um livro, pintou uma gravura ou tirou fotografia, etc. na tentativa de encontrar uma verdade. Mas qual verdade? A da pessoa que escreveu o livro? Será que todos nós, só falamos a verdade, ou também mentimos? Não sei se já comparou a história de uma batalha escrita por vencedores e vencidos. Ganham sempre os dois. Nem na política se perdem eleições, porque alguém ganhou mais votos num determinado lugar. O Clero a Nobreza e Povo sempre existiram. Podem ter outros nomes. “Ricos, Remediados e Pobres” ou “Hotel de 5 estrelas, Pousada e Pensão”, etc. Quando alguém canta ou grava um determinado trabalho tem como intenção, o Clero, a Nobreza ou o Povo?
Acha que o Povo entende o poeta que diz:
Povo que lavas no rio
Que talhas com o teu machado
As tábuas do meu caixão.
Pode haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não.
Este poema, que muitos chamam de “Fado Povo que lavas no rio”, não é mais do que o Fado Vitória, composto por Joaquim Campos da Silva (1911 – 1981), para o qual Pedro Homem de Mello (1904 – 1984) fez um Poema.
Acha que o Povo entendia Fernando Pessoas e os seus heterónimos? Acha que o Povo entende o grande Livro de Camões? Então o Povo será estúpido ou terá uma maneira simples de estar na vida? Só porque não é doutor, não tem direito de ouvir um Fado que entenda e não tenha palavras “caras”?
Na minha opinião os grandes investigadores de Fado ainda não fizeram o trabalho de casa.
Alguns exemplos:
1- O levantamento dos poetas do Fado e os respectivos poemas, para quem foram escritos e a quem foram dedicados. Os grandes guitarristas e homens da noite fadista são as grandes enciclopédias do Fado. Pode ser que tenham escrito muitos livros mas eu não os conheço. Poderei dar como excepção o trabalho do neto de Marceneiro sobre o seu avô, mas ainda incompleto.
2 – As músicas do Fado. Com tantos estilista e tantas versões qualquer dia não sabemos como era a versão original. Alguém entendido em Teoria Musical, que escreva partituras para Guitarra Portuguesa e Viola de Fado. Hoje em dia estão na moda os “arranjos”. Cada um toca à sua maneira. Pode ser útil para vender CD’s, não o é para os investigadores do Fado. Fazem-se capas de CD’s muito bonitas mas com pouco conteúdo da história e origem dos Fados incluídos no respectivo CD.
3 – Biografias de autores, instrumentistas e fadistas. Sabemos pouca da sua história. Os guitarristas e violistas têm os seus construtores preferidos pelo timbre que pretendem obter do instrumento. Uns tocam em guitarras Grácio, outros Cardoso, há quem prefira o timbre de Álvaro Merceano da Silveira, etc. Datas de nascimento nem vê-las. Como começaram a tocar, qual foi o seu primeiro instrumento, havia nos seus antepassados antecedentes musicais?
4 – Quando os discos de 33 RPM desapareceram, muitas histórias do nosso Fado foram para o lixo. As capas podiam não ter uma grande arte gráfica mas continham, muita informação. Um dia o Guitarrista Frias Gonçalves ofereceu-me mais de 700 guitarradas de Coimbra. Já andava farto de esmolar para que alguém lhes desse continuidade. Estão aqui em minha casa. Afinal de quem são os Fados? Têm dono? Estão registados? Ou cada um salva-se como puder? Ultimamente fazem-se muitas colectâneas de Fados. Se tiver um olhar atento, o que muda é a capa.
Se querem fazer novas colectâneas de Fados porque não se dão ao trabalho de digitalizarem discos antigos de Fado Tradicional. A nova geração tem as suas próprias editoras, a televisão e os grandes espectáculos de Fado. Para a história do Fado era importante dar a conhecer os antigos fadistas e o seu estilar. Quando conheci Michel Giacometti, que nasceu a 8 de Janeiro de 1929 em Ajaccio, na Córsega que, com Fernando Lopes Graça lançou a "Antologia da Música Regional Portuguesa", os conhecidos discos de “sarapilheira”, editados pela Arquivos Sonoros Portugueses em cinco volumes, por volta dos anos 80, já me dizia que era tarde para se conhecer a verdade sobre a música popular portuguesa. Os investigadores estavam distantes das verdadeiras enciclopédias da cultura portuguesa (o Povo). Ele, o Povo, viveu a verdade. No Fado a verdade está nas pessoas que viveram e vivem o Fado.
Não sei se conhece este poema:
“Lá porque tens cinco pedras”
Lá porque tens cinco pedras
Num anel de estimação
Agora falas comigo
Com cinco pedras na mão.
Enquanto nesses brilhantes
Tens soberba e tens vaidade
Eu tenho as pedras da rua
Para passear à vontade.
Podes passar sorridente
A lardear satisfeito
Que ainda hei-de chamar-te à pedra
Pelo mal que me tens feito.
Pobre de mim não sabia
Que o teu olhar sedutor
Não errava a pontaria
Como a pedra do pastor.
Hás-de ficar convencido
Da afirmação consagrada
Quem tem telhados de vidro
Não deve andar à pedrada.
Não sei se sabe, o que era o anel de cinco pedras. Eu já tive um. É um anel com cinco pedras! Leia as iniciais das respectivas pedras. Era o anel da sorte.
1ª Pedra - Malaquita
2ª Pedra - Esmeralda
3ª Pedra - Rubi
4ª Pedra - Diamante
5ª Pedra - Ametista
Dizia-se a palavra (.........) no teatro para dar sorte, na estreia da uma peça. Se tiver um (anel de 5 pedras), estime-o, que já é uma obra de arte muito rara.