Letras de Fados cantados por Amália Rodrigues

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Zanguei-me Com Meu Amor
(......................)


Zanguei-me com meu amor
Não o via em todo dia
À noite cantei melhor
O fado da mouraria!

O sopro duma saudade
Vinha beijar-me, era hora.
P'ra ficar mais à vontade,
Mandei a saudade embora!

De manhã, arrependida,
Lembrei e pus-me a chorar.
Quem perde o amor na vida,
Jamais devia cantar!

Quando regressou ao ninho
Ele que mal assobia,
Vinha assobiar baixinho
O fado da Mouraria!

 

Meia-noite Uma Guitarra
(.......................)


Meia-noite, uma guitarra
Meia vida por viver
E a saudade que se agarra
Ao cantar de uma mulher
Meia-noite, uma guitarra
Meia vida por viver.

Pelas ruas mais sombrias
Passa o tempo que passou
Serenatas de outros dias
Que a voz do tempo cantou
Pelas ruas mais sombrias
Passa o tempo que passou.

É loucura sem sentido
Caminhar por onde vou
Viver é estar-se perdido
Morrer é estar onde estou
É loucura sem sentido
Caminhar por onde vou.

Meia-noite é meio da vida
Meia vida por viver
Guitarra triste, esquecida
Que ninguém sabe entender
Meia-noite é meio da vida
Sem ninguém p'ra me entender.

 

Disse-te Adeus e Morri
(.........................)


Disse-te adeus e morri
E o cais vazio de ti
Aceitou novas marés.
Gritos de búzios perdidos,
O varão dos meus sentidos,
A gaivota que tu és.
 

Gaivota de asas coradas,
Que não sentes madrugadas
E acorda à noite a chorar.
Gaivota que faz o ninho
Porque perdeu o caminho
Onde aprendeu a sonhar.

Preso no ventre do mar
O meu triste respirar
Sofre a invenção das horas.
Pois, na ausência que deixaste,
Meu amor, como ficaste?
Meu amor, como demora!
 

Barco Negro
David Mourão Ferreira

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.[Bis]

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo. (Bis)

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
 

Ai Mouraria

(Amadeu do Vale / Frederico Valério)

Ai Mouraria
Da velha rua da Palma
Onde eu um dia
Deixei presa a minha alma.

Por ter passado mesmo ao meu lado certo fadista
De cor morena, boca pequena, olhar trocista.

Ai Mouraria
Do homem do meu encanto
Que mentia
Mas que eu adorava tanto.

Amor que o vento
Como um lamento
Levou consigo.

Mas que ainda agora
E a toda a hora
Trago comigo.

Ai Mouraria
Dos rouxinóis nos beirais
Dos vestidos cor-de-rosa
Dos pregões tradicionais.

Ai Mouraria
Das procissões a passar
Da Severa em voz saudosa
Da guitarra a soluçar.

Ai Mouraria
Das procissões a passar
Da Severa em voz saudosa
Da guitarra a soluçar.

Amália
(José Galhardo / Frederico Valério)

Amália,
quis Deus que fosse o meu nome,
Amália,
acho-lhe um jeito engraçado
bem nosso e popular
quando oiço alguém gritar
Amália
canta-me o fado.

Amália,
esta palavra ensinou-me
Amália,
tu tens na vida que amar
são ordens do Senhor
Amália sem amor
não liga, tens de gostar
e como até morrer
amar é padecer
Amália chora a cantar!

Amália,
disse-me alguém com ternura
Amália,
da mais bonita maneira
e eu toda coração
julguei ouvir então
Amália p'la vez primeira

Amália,
andas agora à procura
Amália,
daquele amor mas sem fé
alguém já mo tirou
alguém o encontrou
na rua com a outra ao pé
e a quem lhe fala em mim
já só responde assim
Amália? não sei quem é!

 

Avé Maria Fadista
(Gabriel de Oliveira / Francisco Viana)

Avé Maria sagrada
Cheia de graça divina
Oração tão pequenina
De uma beleza elevada.

Nosso Senhor é convosco,
Bendita sois vós, Maria.
Nasceu vosso Filho, um dia,
Num palheiro humilde e tosco.

Entre as mulheres bendita,
Bendito é o fruto, a luz,
Do vosso ventre, Jesus,
Louvor e graça infinita.

Santa Maria das dores,
Mãe de Deus, se for pecado,
Tocar e cantar o fado,
Rogai por nós pecadores.

Nenhum fadista tem sorte,
Rogai por nós Virgem Mãe.
Agora, sempre e também
Na hora da nossa morte.
 

Barco Negro
(David Mourão Ferreira)

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração. (Bis)

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.(Bis)

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

 

Casa da Mariquinhas
(........................)


Foi no Domingo passado que passei
À casa onde vivia a Mariquinhas
Mas está tudo tão mudado
Que não vi em nenhum lado
As tais janelas que tinham tabuinhas.

Do rés-do-chão ao telhado
Não vi nada, nada, nada
Que pudesse recordar-me a Mariquinhas
E há um vidro pegado e azulado
Onde via as tabuinhas.

Entrei e onde era a sala agora está
À secretária um sujeito que é lingrinhas
Mas não vi colchas com barra
Nem viola nem guitarra
Nem espreitadelas furtivas das vizinhas.

O tempo cravou a garra
Na alma daquela casa
Onda às vezes petiscávamos sardinhas
Quando em noites de guitarra e de farra
Estava alegre a Mariquinhas.

As janelas tão garridas que ficavam
Com cortinados de chita às pintinhas
Perderam de todo a graça porque é hoje uma vidraça
Com cercaduras de lata às voltinhas.

E lá p'ra dentro quem passa
Hoje é p'ra ir aos penhores
Entregar o usurário, umas coisinhas
Pois chega a esta desgraça toda a graça
Da casa da Mariquinhas.

P'ra terem feito da casa o que fizeram
Melhor fora que a mandassem p'rás alminhas
Pois ser casa de penhor
O que foi viver de amor
É ideia que não cabe cá nas minhas

Recordações de calor
E das saudades o gosto eu vou procurar esquecer
Numas ginjinhas

Pois dar de beber à dor é o melhor
Já dizia a Mariquinhas
Pois dar de beber à dor é o melhor
Já dizia a Mariquinhas.

 

 Coimbra
(José Galhardo - Raul Ferrão)

Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lente é uma canção
E a lua a faculdade
O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade.

Coimbra do choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal, ainda
Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês tão linda.

Coimbra das canções
Coimbra que nos põe
Os nossos corações, à luz...
Coimbra dos doutores
P'ra nós os seus cantores
A fonte dos amores és tu.

 

Confesso
(........................)

Confesso que te amei, confesso
Não coro de o dizer, não coro
Pareço outra mulher, pareço
Mas lá chorar por ti, não choro
Fugir do amor tem seu preço
E a noite em claro atravesso
Longe do meu travesseiro
Começo a ver que não esqueço
Mas lá perdão não te peço
Sem que me peças primeiro

De rastos a teus pés
Perdida te adorei
Até que me encontrei, perdida
Agora já não és
Na vida o meu senhor
Mas foste o meu amor, na vida

Não penses mais em mim, não penses
Não estou nem p'ra te ouvir por carta
Convences as mulheres, convences
Estou farta de o saber, estou farta
Não escrevas mais nem me incenses
Quero que tu me diferences
Dessas que a vida te deu
A mim já não me pertences
Mas lá vencer-me não vences
Porque vencida estou eu

De rastos a teus pés
Perdida te adorei
Até que me encontrei, perdida
Agora já não és
Na vida o meu senhor
Mas foste o meu amor, na vida.

Estranha Forma de Vida
(Alfredo Duarte - Amália Rodrigues)

Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda minha a saudade.
Foi por vontade de Deus.

Que estranha forma de vida
Tem este meu coração:
Vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.

Coração independente,
Coração que não comando:
Vive perdido entre a gente,
Teimosamente sangrando,
Coração independente.

Eu não te acompanho mais:
Pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
Porque teimas em correr,
Eu não te acompanho mais.

 

Vou Dar de Beber à Dor
(......................)


Foi no Domingo passado que passei
à casa onde vivia a Mariquinhas,
mas 'stá tudo tão mudado
que não vi em nenhum lado
as tais janelas que tinham tabuinhas.

Do rés-do-chão ao telhado
não vi nada, nada, nada
que pudesse recordar-me a Mariquinhas,
e há um vidro pregado e azulado
onde havia as tabuinhas.

Entrei e onde era a sala agora está
à secretária um sujeito que é lingrinhas,
mas não vi colchas com barra
nem viola, nem guitarra,
nem espreitadelas furtivas das vizinhas.

O tempo cravou a garra
na alma daquela casa
onde as vezes petiscavamos sardinhas
quando em noites de guitarra e de farra
estava alegre a Mariquinhas.

As janelas tão garridas que ficavam
com cortinados de chita às pintinhas
perderam de todo a graça
porque é hoje uma vidraça
com cercadura de lata às voltinhas.

E lá p'ra dentro quem passa
hoje é p'ra ir aos penhores
entregar ao usurário umas coisinhas,
pois chega a esta desgraça toda a graça
da casa da Mariquinhas.

P'ra terem feito da casa o que fizeram
melhor fora que a mandassem p'rás alminhas,
pois ser casa de penhores
o que foi viveiro d'amores
é ideia que não cabe cá nas minhas

Recordações do calore das saudades.

O gosto que eu vou procurar esquecer
numas ginjinhas,
pois dar de beber à dor é o melhor,
já dizia a Mariquinhas.