O Fado do Embocado

ou

O Fado Património da Humidade

Desta vez não se trata de gralhas, mas sim de dois sindromas do Fado. Penso que era importante para o Fado, seus amantes e investigadores, se juntarem para que as diversas páginas e Blogs se unissem em torno da verdade escrita sobre o Fado.

O Fado do Embocado: muito cantado nos últimos anos, onde cada um escreve "Bocas" sobre o Fado. Vivemos numa dita democracia, mas será que a curto prazo, vão ser criados partidos Fadistas. Se cada um escreve o que pensa sobre o assunto sem procurar estar esclarecido e detentor da suposta verdade sobre o Fado, estamos no mau caminho. Todos é que sabemos tudo. Quando se escreve a letra de um determinado Fado, será que temos a preocupação de verificar se a letra está correcta? Não são as gralhas de escrita que são importante. Dizer: "noutros tampos a a fidalgia" não é muito importante. O leitor atento sabe que o autor do texto cometeu erros de escrita.  Acontece a todos que escrevem em computadores. Falar de "fado" ou de "Fado" o caso muda de figura. Falamos de destino ou de Música? O Fado do Embuçado não existe. Digo eu que sou ignorante do assunto. O que existe é o poema "O Embuçado", poema, cantado no Fado Tradição (de Alcídia Rodrigues, Cantadeira - 1912). A letra do "Embuçado" é de Gabriel de Oliveira.

Gabriel de Oliveira (Gabriel Marujo)
Poeta Popular (1891-1953)
Gabriel de Oliveira nasceu em 1891 (?), em Lisboa e morreu na Figueira da Foz em 1953.
Em 1909 assentou praça na Marinha de Guerra como aluno, tendo completado o curso de artilheiro. Combatente da Primeira Guerra Mundial como artilheiro e foi condecorado com a medalha da Vitória.
A sua alcunha de marujo vem da sua profissão.
De estatura imponente e grande valentia, participou activamente no apoio a Sidónio Pais, fazendo comícios no Largo da Guia e na Mouraria. Terá mesmo posto ao serviço deste político alguns barcos, o que lhe valeu outra alcunha, a de marujo almirante. Mais tarde entra para a Intendência, onde exerce as funções de fiscal.
Manteve uma longa ligação com a cantadeira Natália dos Anjos e das suas composições contam-se algumas das mais clássicas letras do repertório fadista como é o caso de Igreja de Santo Estêvão, para ser cantado por Joaquim Campos (com o qual frequentemente trabalhou) na famosa composição deste Fado Vitória, e Café das Camareiras, com letra e criação de Alfredo Marceneiro a quem também se deve a música para A Senhora do Monte, que após ter sido um sucesso na voz de Marceneiro, o foi igualmente na interpretação de Carlos Ramos.
Escreveu outros êxitos como "Há Festa na Mouraria" e "A procissão da Senhora da Saúde", entre outros.

Inspirando-se alegadamente ao gosto do rei D. Carlos pela Guitarra Portuguesa e pelo Fado, escreveu a letra "O Embuçado". Originalmente criado para Natália dos Anjos, com música composta pelo guitarrista José Marques Piscalarete, que lhe deu o título de Fado Natália.  Os restos mortais de Gabriel de Oliveira repousam na Cripta dos Combatentes da Grande Guerra, em Lisboa.

No entanto tudo isto tem uma explicação. Na realidade "o Embuçado é conhecido na voz de um grande amigo e Fadista, João Ferreira Rosa. Mas o seu, a seu dono. A letra de "O Embuçado" pode ser cantada no Fado Tradição (versão de João Ferreira Rosa) ou no Fado Natália (do guitarrista José Marques Piscalarete). Como é lógico estas afirmações podem estar erradas. Se assim o entender faça-me o favor de as corrigir, dizendo porquê e em que se baseia. Errado por errado, não serve.

 

O Embuçado

Letra : Gabriel de Oliveira, 

Noutro tempo a Fidalguia
Que deu brado nas toiradas
Andava p'la Mouraria
Onde muito falar se ouvia
Dos Cantos e Guitarradas.

A história que eu vou contar
Contou-me certa velhinha
Certa vez que eu fui cantar
Ao salão de um Titular
Lá para o Paço da Rainha.

E nesses salão doirado
De ambiente Nobre e sério
Para ouvir cantar o Fado
Ia sempre um Embuçado
Personagem de mistério.

Mas certa noite ouve alguém
Que lhe disse, erguendo a fala:
- Embuçado, nota bem:
Que hoje não fique ninguém
Embuçado nesta sala!

Perante a admiração geral
Descobriu-se o Embuçado
Era El-Rei de Portugal
Houve beija-mão real
E depois cantou-se o Fado.

Se o poema não estiver correcto diga de sua justiça. A internet serve para esclarecer e não para dar um mau contributo ao Fado.

O "Embuçado" é dedicado a El Rei D. Carlos I que aprendeu a tocar Guitarra Portuguesa, gostava de Toiradas e de Fado. O "Embuçado", da autoria de Gabriel de Oliveira, "é uma homenagem ao Rei que ia muito aos Fados e tinha até aprendido a tocar Guitarra Portuguesa com João Maria dos Anjos (guitarrista e autor de um método de tocar Guitarra Portuguesa), disse o fadista Miguel Silva, 91 anos, que conviveu com o poeta, falecido em 1953.
Gabriel de Oliveira, que ficou conhecido na Mouraria como “Gabriel, marujo” era um monárquico e fez o poema para a Natália dos Anjos (que foi sua companheira) cantar em homenagem ao Rei.
O Rei D. Carlos I, assassinado há cem anos, era apologista de cultural das época que visava "revalorizar as coisas nacionais". Será que o Fado necessita de um novo Rei?

Como curiosidade aqui fica o nome completo de El Rei D. Carlos I:
Carlos Fernando Luís Maria Victor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão de Bragança Sabóia Bourbon e Saxe-Coburgo-Gota.

(Palácio da Ajuda, Lisboa, 28 de Setembro de 1863 — Terreiro do Paço, Lisboa, 1 de Fevereiro de 1908) foi o penúltimo Rei de Portugal.

NATÁLIA DOS ANJOS

(1913 – 1991)
Natália dos Anjos Figueiredo, cantadeira e poetisa, nasceu em Lisboa.
Obteve o primeiro sucesso com apenas 7 anos quando cantou o Fado na casa da família Palha Blanco, em Vila Franca de Xira. Foi acompanhada por Armandinho à Guitarra e Luís Abrantes à Viola.
Apresentou-se em várias sociedades de recreio e festas de caridade, que frequentava sendo sempre acompanhada pelos pais.
Ainda como amadora cantou no Retiro da Severa a convite de Armandinho, tendo feito digressão por todo o País, sempre acompanhada por músicos de nomeada.
João da Mata e Gabriel de Oliveira, dois grandes nomes na composição de Fados,  escreveram para ela, o que lhe proporcionou um notável repertório. Profissionalizou-se em Outubro de 1936, sendo imediatamente contratada em exclusivo pelo Retiro da Severa.

Mais tarde cantou no Solar da Alegria, Cafés Luso e Mondego. É no Retiro da Severa que estreia o “Embuçado”.

Já falei das "Bocas do Fado", o que não quer dizer que eu também não escreva. Por isso leia atentamente o que os investigadores dizem para que possamos saber a verdade do Fado. 

Gostaria de falar agora, para que possa pensar no assunto, sobre o grande projecto "O Fado Património da Humanidade". Pergunta: mas em Portugal não existem outras outros tipos de música? Os nossos Ranchos, as Bandas e Filarmónicas, os cantares Alentejanos, toda a riqueza da música da Madeira e Açores, as nossas Tunas e Trupes, os cantares Minhotos e os grupos de Cavaquinhos, os nossos acordeonistas que ganham prémios em todo o mundo, os Pauliteiros de Miranda, etc. também não serão um grande património. É só uma pergunta e como diz o povo "perguntar não ofende".  
 

Passo a citar: A candidatura do fado a Património da Humanidade será submetida à UNESCO em 2009, anunciou o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, durante a apresentação do plano de actividades para o próximo ano. De acordo com o Jornal de Notícias, o objectivo é depois criar arquivos e museus, assim como promover a pesquisa científica. Tem uma certa graça, uma vez que há mais de 40 anos conheço grandes investigadores, com grandes arquivos de Fado (discos, fotografias, partituras, panfletos, muitos deles já digitalizados) e que quando querem publicar qualquer coisa a resposta é sempre a mesma (NÃO). Porque será?